Flow


Imagem de divulgação do filme

A animação letã, dirigida por Gints Zilbalodis e co-escrita por Matīss Kaža, fez história ao conquistar o primeiro Oscar para a Letônia, prêmio esse dado na categoria de Melhor Filme de Animação. Além disso, foi a primeira vez que um prêmio foi concedido a um trabalho realizado com software livre, no caso o Blender. Com visuais impressionantes, uma narrativa bem elaborada e completamente sem diálogos, a obra conseguiu se destacar de maneira notável, gerando empatia e permitindo que as pessoas se identificassem com as experiências retratadas na tela.

A história, que é contada através da perspectiva de uma Gatinha, é cheia de metáforas. Ela vive em um mundo pós-apocalíptico habitado apenas por animais. Acostumada a sua zona de conforto, mora em um local que possui basicamente tudo o que necessita para viver. Existem algumas ameaças, mas por maiores que sejam elas, a protagonista consegue lidar bem com isso. De repente, de uma hora para outra, uma força externa inevitável acontece e sem nenhuma explicação aparente um dilúvio surge, que a força a sair de sua zona de conforto. Ela demora a reagir, pois, tem medo e não quer abandonar as coisas que conhece, só toma uma atitude quando não tem mais escapatória e a água está prestes a afogá-la. É aí que surge um pequeno barco a deriva e ela se vê obrigada a pular dentro. Aceita, então, o desconhecido e a mudança. Começa a sua autodescoberta e seu relacionamento com os outros para vencer as adversidades. O filme não possui um vilão em específico, mas foca nas interações e na jornada dos personagens. É sobre uma gata versus ela mesma, tendo que superar seus medos e inseguranças. É uma reflexão sobre crescimento pessoal e a importância de superar o medo do novo, uma metáfora sobre a vida, relações interpessoais e a transformação do mundo externo e de nós mesmos.

O que, na minha opinião, torna Flow mais especial ainda é o fato dele ter sido desenvolvido totalmente usando o Blender. Zilbalodis, que já havia trabalhado com outras ferramentas, como o Maya, decidiu migrar para o Blender em 2019 por causa do EEVEE, um motor de renderização em tempo real. O motor permitiu a ele trabalhar em várias áreas simultaneamente, como no ajuste da câmera e das luzes, já que a iluminação afeta tanto o posicionamento da câmera quanto a aparência da cena.

Os custos foram baixos se comparados a grandes animações, apenas 3,8 milhões de Dólares. Equipe era bastante enxuta, contando apenas 15 a 20 pessoas, dependendo da fase do projeto. Para a renderização final do filme, não houve uso de renderfarms, mas o computador pessoal do próprio diretor foi usado para isso. Cada cena levou de 0,5 até 10 segundos para ser renderizada em 4k.

Além do Oscar, ele também ganhou um Globo de Ouro, um César e vários prêmios no Festival de Annecy. Se tornou o maior sucesso de bilheteria da história da Letônia, superando todas as expectativas.

Zilbalodis já está trabalhando em seu próximo projeto, e continuará usando o Blender.

Imagem com cenas do filme

Nas palavras do próprio Zilbalodis:

“Se eu soubesse o quão difícil seria, talvez nunca tivesse começado. Mas, como não sabia, simplesmente mergulhei e fui descobrindo as coisas no caminho.” Que bela prova de que aprender coisas novas, mesmo que seja desafiador, pode revolucionar nossa vida!


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